Se existe diferenças entre quem lê e quem insiste em ler, então não custa ler de novo! A magia de conhecer está em cada nova descoberta a partir de uma releitura.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Do bem-estar ao pensamento crítico: um olhar sobre o norte



A vida em um país nórdico, como a Finlândia, nos faz refletir mais profundamente sobre a relação entre liberdade, igualdade, autonomia e formatos sociais que podem propiciar vidas mais plenas e felizes aos seus cidadãos. Para alguém habituado a desigualdades, uma sociedade igualitária, com amplo respeito pela vida humana, excelentes índices de educação, burocracia inteligente e serviços públicos voltados (de fato) para melhorar a vida do cidadão, soa como um caminho para a produção de seres humanos mais plenos e sociedades mais inspiradoras. Talvez não seja assim.
Quando nos referimos à igualdade, não tratamos de mera distribuição equitativa da renda. A igualdade e a dignidade humana que uma sociedade pode produzir referem-se à possibilidade de o cidadão ter condições materiais e subjetivas à sua disposição, para que atendidas suas necessidades básicas e diárias de bem-estar, ele se ocupe com questões outras que a sobrevivência. Essas necessidades básicas de bem-estar incluem uma ilimitada oferta de bens públicos de excelentes creches, escolas, universidades, sistema de saúde e providência a todos, piscinas públicas, parques, transporte confortável e excelente, seguro-desemprego por tempo indefinido, licença maternidade de 10 meses, muitas bibliotecas públicas...
No entanto, a Finlândia tornou-se uma sociedade tão igualitária quanto apática. Pouco criativa, reproduz o mundo com extrema facilidade, mas tem limitada capacidade transformadora. A maioria de seus educados cidadãos são seres pouquíssimo críticos: questionam pouco a vida que levam e são fisicamente contidos. E isso não parece ter forte relação com o frio. É um acomodamento social, um respeito quase inexorável pelas regras. Esse resultado não foi causado, é evidente, pelo formado social igualitário. Em outros termos, não foi a igualdade que deixou o país apático. Ademais, sociedades desiguais podem ser tão ou mais acríticas e reprodutoras. O ponto que nos intriga é que a igualdade, o respeito e a dignidade dados a todos não levaram à autonomia, ao pensamento criativo e crítico e a processos transformadores. 


Adaptado de Isabela Nogueira

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