A vida em um país nórdico, como a Finlândia, nos faz
refletir mais profundamente sobre a relação entre liberdade, igualdade,
autonomia e formatos sociais que podem propiciar vidas mais plenas e felizes
aos seus cidadãos. Para alguém habituado a desigualdades, uma sociedade
igualitária, com amplo respeito pela vida humana, excelentes índices de
educação, burocracia inteligente e serviços públicos voltados (de fato) para
melhorar a vida do cidadão, soa como um caminho para a produção de seres
humanos mais plenos e sociedades mais inspiradoras. Talvez não seja assim.
Quando nos referimos à igualdade, não tratamos de mera
distribuição equitativa da renda. A igualdade e a dignidade humana que uma
sociedade pode produzir referem-se à possibilidade de o cidadão ter condições
materiais e subjetivas à sua disposição, para que atendidas suas necessidades
básicas e diárias de bem-estar, ele se ocupe com questões outras que a
sobrevivência. Essas necessidades básicas de bem-estar incluem uma ilimitada
oferta de bens públicos de excelentes creches, escolas, universidades, sistema
de saúde e providência a todos, piscinas públicas, parques, transporte
confortável e excelente, seguro-desemprego por tempo indefinido, licença
maternidade de 10 meses, muitas bibliotecas públicas...
No entanto, a Finlândia tornou-se uma sociedade tão
igualitária quanto apática. Pouco criativa, reproduz o mundo com extrema
facilidade, mas tem limitada capacidade transformadora. A maioria de seus educados
cidadãos são seres pouquíssimo críticos: questionam pouco a vida que levam e
são fisicamente contidos. E isso não parece ter forte relação com o frio. É um
acomodamento social, um respeito quase inexorável pelas regras. Esse resultado
não foi causado, é evidente, pelo formado social igualitário. Em outros termos,
não foi a igualdade que deixou o país apático. Ademais, sociedades desiguais
podem ser tão ou mais acríticas e reprodutoras. O ponto que nos intriga é que a
igualdade, o respeito e a dignidade dados a todos não levaram à autonomia, ao
pensamento criativo e crítico e a processos transformadores.
Adaptado de Isabela Nogueira
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