Você já escreveu ou
falou alguma coisa que foi considerada incoerente por outra pessoa? Não? Então,
vamos reformular a pergunta: você já escreveu ou falou alguma coisa que foi
entendida de maneira diferente da que você gostaria que entendessem?
E aí? Mudou de
opinião?
Pois é, que atire o
primeiro dicionário quem nunca foi interpretado de maneira diferente daquilo
que quis veicular. Seja por causa da falta de informação ou do seu excesso;
seja pelo fato de a mensagem não possuir elementos contextualizadores
suficientes, como título, autoria, assinatura (no caso do escrito) ou gestos,
olhares, entoação (no caso do falado); ou, ainda, seja porque o conhecimento do
conteúdo veiculado não era partilhado suficientemente com o interlocutor
(leitor ou ouvinte). Todas essas razões nos fazem pensar que, quando chamamos
um texto de incoerente, estamos nos referindo à não ativação de elementos
necessários para que tanto o falante/escritor como o ouvinte/leitor atribuam
sentido. A escola nos ajudou a pensar assim?
Vários pedagogos e
estudiosos da educação têm relatado que o ensino de Língua Portuguesa, por
muito tempo, se posicionou sobre o assunto de modo bastante negligente, não
abordando os motivos empíricos que fazem com que os textos possam ser
considerados incoerentes. Quem não se recorda de algum professor que tenha
devolvido ao aluno seu texto escrito com uma cruz enorme em vermelho
acompanhada da frase “Seu texto está incoerente”? Muitas vezes, nessas
situações, o aluno recebe a correção, mas não chegam a ele as orientações para
entender o que pode melhorar no texto e o que faz dele incoerente. [...]
A coerência de um
texto depende majoritariamente da troca de informações entre os interlocutores,
muito mais do que a construção sintática que possui, assim como a atribuição de
coerência está ligada diretamente aos nossos conhecimentos sobre o assunto. No
entanto, o puro conhecimento sociocognitivo não é suficiente se não aprendermos
os aspectos estritamente linguísticos. Caso o leitor não compreenda o código
ali colocado, a coerência não se constituirá. Isso pode ocorrer quando há
alguma expressão no texto de uma língua diferente daquela usada pelo leitor, como
o latim (ad hoc), o francês (déjà vu), ou o inglês (mainstream). Ou ainda, quando
o registro é extremamente específico de uma área, como os famosos jargões
técnicos: vocabulários jurídico, médico etc.
Além do
conhecimento das palavras, a relação sintática também é de suma importância. O
estabelecimento da mútua compreensão sobre a síntese entre os interlocutores é
chamado de coesão textual. Ela não só está comprometida com a estrutura do
texto, isto é, a ligação entre os termos e as frases, como também com a
semântica, ou seja, o sentido que advém dessa estrutura e que é atribuído pelos
interlocutores.
De: Iran Ferreira de
Melo
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