Realizar um paralelo entre as relações que existem entre Religião, Cultura, Ciência e Sociedade e Religião é tentar compreender como ambas acabam se tornando similares quanto ao aspecto da crença e qual a convergência de ambas que faz com que mesmo tendo concepções antagônicas as duas estejam em voga na atualidade cabendo a cada uma buscar ser a Verdade e o Sagrado a sua forma tentando trazer ao homem o balsamo em especial com relação à possibilidade do infinito.
Como propõe a ideia objetiva da
interpretação com relação à maneira como a religiosidade é vivenciada na
atualidade pelo homem e como a sua variedade permite suprir todos os tipos de
angústias, pois existe um espaço adequado para cada coração que procura um
alívio, tende esta religiosidade se voltar para perspectivas de acordo com seu
local de nascimento, ou seja, o espaço geográfico e suas relações com as
tradições religiosas que estão estabelecidas no local como rituais, servem como
referência para uma prática religiosa que é influenciada não só por determinados
fatores de localidade, mas também pelo convívio familiar, pela cultura do país
e acima de tudo por conceitos morais exigidos pela sociedade.
A família é a primeira referência do
homem em sociedade em qualquer aspecto, inclusive na religião a qual se
professa. Desde o nascimento a criança já é apresentada a uma religião por meio
de rituais de iniciação, como no caso do batismo para os cristãos, onde mesmo
não tendo consciência e possibilidade de escolha este é apresentada a Deus para
adquirir a benção e a proteção divina que já o adiantará com isso uma
consequência de seguimento. A família e sua influência na formação religiosa de
cada um se realizam de forma gradativa com a apresentação da criança a uma
religião que fará com que o menor mesmo não estando satisfeito com a escolha a
qual o colocaram continua seguindo as tradições que acaba aceitando as escolhas
não escolhidas. Nas leituras feitas em casa e na participação de cultos na
igreja que frequenta a religião vai influenciando na formação do indivíduo
sendo que em escala de convívio primordialmente no lar e posteriormente fora do
círculo familiar é o da igreja que se frequenta, em geral é a segunda esfera de
convívio que se tem e desta forma a crença em que é orientado em sua maioria é
o que vai dar horizonte a quem em termos de fé por toda vida, pois sendo a
religiosidade incutida em um homem deste sua infância esta se torna uma referência
que esta interiorizada e geralmente influenciada em todas as posturas a que
este venha adotar em suas decisões e ainda no que possa ser entendido como
verdade.
Adotar uma religião também esta
ligada a referência territorial de nascimento, pois em cada espaço geográfico
do mundo se tem determinada postura religiosa. Uma prova disto é a divisão
entre o Cristianismo e o Islamismo que na atualidade polarizam o mundo enquanto
crença, estabelecendo cada uma a seu modo. Isto se dá através de uma postura
cultural que se relaciona com a religião, concretizando assim a polarização
entre oriente e ocidente em especial nas figuras centrais, sejam de Jesus ou
Maomé.
Enquanto para o cristão Jesus é
parte da trindade divina Deus, Filho e Espírito Santo sendo o verbo que se fez
carne e salvou o homem o libertando do pecado e o permitindo que este seja
salvo por sua escolha. Para o Islã Jesus existiu como figura humana um grande
sábio, mas não sendo reconhecido como um ser metafísico, estes tem como alusão
divina a figura religiosa do profeta Maomé que recebeu a revelação de Deus do
livro Sagrado, O Alcorão que é toda base religiosa da fé Islâmica.
As religiões supramencionadas têm
também seus alcances culturais na vida social, pois como já mencionado
anteriormente é deste a branda infância a influência que acompanha o indivíduo
por toda sua vida e desta forma estabelece relações de comportamentos que são
segmentados e incluídos em cada sociedade como sendo uma extensão do próprio
pensamento, não mais somente religioso, mas também cultural. Isto pode ser
constatado em especial com relação à figura feminina no Islã. A mulher tem um
tratamento social inferior para os padrões do ocidente; ela se subjuga
eminentemente ao ordenamento imposto pela figura masculina seja este da ordem
familiar, social ou religiosa. A mulher possui um papel secundário ao do homem.
As questões religiosas implicam como
um todo até mesmo na vida dos não religiosos, pois estes estão inseridos na
sociedade que adota tradições de origem religiosa que integram a vida cotidiana
da sociedade como em geral. O maior exemplo de como a religiosidade e a cultura
estão ligados à adoção do calendário cristão pelo ocidente - onde mesmo o não
religioso se vê imerso em uma tradição como: a data natalina que pode ser vista
como algo que deixou de ser uma mera data no calendário e se tornou um
indicador para o sagrado e expandiu para além das Igrejas gerando esse símbolo
universal que influencia diretamente na postura do não religioso.
Partindo da constatação da
universalidade da religião qual seja sua tendência afirmativa fica evidente que
na nossa sociedade mesmo com todo o avanço da ciência o homem deste mundo ainda
esta ligado ontologicamente à metafísica do divino se relacionando com o céu
como a realização de um objetivo pela fé e isto está presente em todas as
culturas no mundo, o que se modifica é apenas a forma de representação que cada
cultura faz do sagrado e de que forma este é apresentado a cada sociedade como
o exemplo do Cristianismo e Islamismo. O que essas duas religiões possuem de concordância
é seu objetivo que vai além deste mundo material que conhecemos e transcende
para algo que só é possível de alcançar através da crença religiosa.
Esta busca do homem pelo infinito se
explica pela oposição a finitude ao sentido do ciclo biológico da vida que tem
como único fim a morte do corpo e esta é a razão primordial pela qual ao estar
no mundo o homem é levado a ter a crença e crer em algo é destinar para o que
se acredita uma consagração. Para tanto, o homem não religioso cria para si
espaços próprios onde estabelece relações de crença não religiosas de cunho
cultural e moral e neste particular mesmo não sendo religioso acaba por receber
entusiasmos muito similares ao do processo religioso.
A crença em uma determinada marca, por
exemplo, não advém de uma religiosidade, mas de uma esfera puramente econômica.
É um conceito de acreditar em determinada marca quando optamos por comprar
qualquer produto, levamos em conta o valor econômico, mas a marca do produto
neste sentido pode-se dar a determinado produto uma credibilidade comparável à
opção religiosa e está é uma questão de escolha de acordo com a convicção
própria. Se na infância os pais tinham influência direta nas escolhas de cada
um no decorrer da consciência de escolha muitas pessoas acabam por não
permanecer em determinada religião e assim também ocorre com alguém que nunca
teve influência familiar e acaba por optar por uma vida religiosa. Isto esta
ligado diretamente à tomada de consciência de cada indivíduo que relaciona tudo
que foi mencionado anteriormente para então fazer sua escolha.
Quando se tem como parâmetro determinado
local que nos é especial também isto nos é marcante e representa para nos
também um referencial de certa sacralidade. Como o local onde fomos felizes, o
lugar onde nascemos tudo é uma lembrança que esta no mundo individual de cada
um. Isto para o não religioso é uma crença que está presente não em um mundo
metafísico ou no céu, mas está presente sim na terra como realização plena da
vida e desta maneira este estabelece sua relação com tudo que o cerca. Para ele
a finitude é a possibilidade existente, é a única forma de tornar esta vida
agradável e explorar todas as suas possibilidades.
O homem busca para si seja este
religioso ou não a felicidade só que em sentidos opostos. Enquanto o religioso
busca se auxiliar dos céus para viver, o não religioso busca no conhecimento e autodeterminação,
está felicidade está aqui em seu plano de existência. No fim de tudo tanto um
como o outro tem sua fé, seja na ciência ou em Deus.
Portanto, o homem não religioso tem fé
no conhecimento como possibilidade para alcançar sua infinitude ou
prolongamento da vida, como por exemplo, através da cura de doenças e para este
não religioso suas descobertas acabam por se tornar seu próprio céu, pois a
partir de suas descobertas e realizações este acaba tomando como sagrado o
saber científico e sua relação com tudo que acredita passa eminentemente pela
comprovação científica e a partir desta relação este acaba por definir-se
crente em algo, sendo este algo a razão.
Diante de tudo que fora apresentado tem-se
a seguinte compreensão. Primeiramente, a opção religiosa esta intrinsicamente
ligada ao território onde se vive e a princípio com influência familiar e
posteriormente com a inserção cultural que cerca cada indivíduo que tem nestes
contextos o caminho para seguir determinada religião que como também foi
demostrado mesmo tendo um mesmo objetivo estas podem ter por uma questão de
concepção, formas antagônicas em seus rituais, visões de mundo e explicações
para o ser do homem no mundo. A ciência busca a origem da vida no próprio homem
com sua teoria da evolução para se contrapuser ao pensamento Bíblico da Criação
que dá aos homens quase que um postulado divino como faz a religião. Assim é a
ciência. Se para a religião Deus criou o homem para a ciência o homem evoluiu
do macaco como cientificamente propôs Darwin.
Com relação ao centro da questão que se
coloca o não religioso este também tem em si concepções de crença e sacralidade
mesmo que não religiosas, pois acredita em algo busca através de sua crença
estabelecer também suas formas, rituais e propósitos o que o difere do
religioso é a crença em algo que é eminentemente terreno e é alcançado pela
razão através do saber científico. O acreditar é por fim o ponto de
convergência entre quem professa ou não uma religião e desta forma tanto
religião como ciência coexistem na contemporaneidade mesmo que não de forma
harmônica mais tem como princípio e finalidade o homem.
Por: Valdenise Santos da Silva
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